Os desafios de trabalhar num navio plataforma

A Cibele Ignatti é uma das recentes contratações da Wondercom e ao acharmos que a sua interessante história profissional merecia ser partilhada com toda a comunidade Wondercom, decidimos entrevistá-la.

Conhece alguém que já tenha trabalhado num navio plataforma? A Cibele já teve essa experiência!

Antes de vir para Portugal, no Brasil, começou a sua carreira profissional nas telecomunicações e depois migrou para o mercado da automação industrial. Trabalhou em vários segmentos até que acabou por se especializar na área de Oil & Gas e ficou quase 9 anos na ABB Brasil, um gestor de Oil & Gas. Começou na área de pré-vendas, fazia propostas e orçamentos, tal como agora faz na Wondercom.

Passado um tempo, pensei… Porque não mudar?

As pessoas falavam: “Ah, é muito bonito fazer as coisas na teoria, mas é outra coisa colocar lá para trabalhar.” e então eu disse – Ok! Então eu vou lá conhecer como se faz para colocar a trabalhar!

Contou-nos que um dos grandes projetos em que estava a trabalhar era uma plataforma de petróleo, a FPSO P-62, trabalhava na automatização da sala elétrica do navio que é a sala onde é gerada a eletricidade que é utilizada no navio.

Na altura falou com o responsável da área de Engenharia e disse-lhe: “Vocês estão sempre a dizer que eu não sei o que eu faço, eu quero que vocês me deem uma chance de aprender!”. E assim foi, acabou por migrar de área e foi para a Engenharia.

Lá na Engenharia, trabalhou em todas as vertentes do projeto, passando pela parte da documentação, certificações e configuração de equipamentos, até à parte final do projeto – a parte do arranque – ir para a plataforma e colocar tudo a funcionar. Diz-nos que aí sim, foi uma experiência muito interessante, pois as pessoas não conhecem muito do mundo do trabalho embarcado.

O trabalho embarcado é uma coisa para além do profissional.

Como pessoa, também cresci muito.

Contou-nos que em 2014, quando lá trabalhava, ficava completamente fora, pois quando chegava ao aeroporto tinha que imediatamente desligar o telefone e que este levava um plástico lacrado à sua volta, impossibilitando assim o uso do mesmo. Durante os 14 dias que ficava dentro do navio não podia mexer no seu telefone.

Eram 14 dias completamente sem comunicação… ficar 14 dias sem telefone era um pouco desafiador.

Ao lhe perguntarmos o porquê desta medida a Cibele responde-nos que os telefones podiam interferir nas operações do navio e que tudo se devia a questões de segurança. Disse-nos que nas plataformas eles são muito fortes em questões de segurança, por causa da pirataria e outros motivos, evitando assim ao máximo acessos a comunicações de forma a que as pessoas não possam ser encontradas. Tal como acontece com a Marinha e outras entidades, a localização da plataforma não pode ser encontrada nos mapas.

Eram 14 dias fechada num lugar em que você fica sempre a conviver com as mesmas pessoas, não pode sair dali.

Eram 14 dias embarcados e 14 dias em casa, e quando dizemos em casa é em casa mesmo, não na empresa. Como trabalhavam e estavam 24 horas disponíveis ao serviço da empresa depois tinham direito a esses 14 dias em casa.

O regime de trabalho lá era de 12 horas por dia, sem sábados, domingos e feriados, ou seja, 14 dias diretos, 12 horas por dia. Nas restantes 12 horas do dia tinham que ser criativos e para além de descansar tinham de arranjar outras coisas para fazer como, por exemplo, ir ao ginásio ou ao cinema, porque sim, no navio plataforma existem todos esses recursos.

Quando lhe perguntámos se não existia mesmo acesso à internet na plataforma a Cibele respondeu-nos que existia, mas que era partilhada. Imaginem só… uma sala com 10 computadores para 100 pessoas. Referiu também existia 1 telefone para todos os tripulantes e que este tinha horários de utilização.

Quando eu embarcava eu já dizia à minha família que em tal horário não estivessem com o telefone ocupado porque era o único horário em que eu podia ligar para casa.

Lá no navio são camarotes, normalmente de 2 ou 4 pessoas, sempre com apenas uma casa de banho. Tudo é individual, quer seja os armários do quarto ou da casa de banho que são identificados com as letras A,B,C ou D, quer seja as camas que têm uma cortina blackout para poder estar à vontade.
Normalmente as pessoas trabalham todas no mesmo horário, só por vezes é que acontecia estarem em horários desfasados, então as pessoas tinham mesmo de aprender a respeitar o espaço do outro.

É uma experiência bem interessante e por vezes eu tenho saudades daquilo!

Outra experiência interessante foi o helicóptero, a Cibele nunca tinha andado e para se deslocar até ao navio plataforma era 1 hora de helicóptero mar a dentro. “Para uma pessoa como eu que tem medo do mar, foi uma experiência surreal…”.

Contou-nos também que trabalhou em 3 navios diferentes e uma coisa a que teve de se acostumar foi ao balanço dos navios. “Nos primeiros dias tinha muito mau estar, pois como era um navio plataforma balançava muito. Não eram aquelas plataformas que são agarradas no fundo do mar, eram navios plataforma que estavam ancorados, mas que balançavam.”

Das 400 pessoas a bordo apenas 1% delas eram mulheres, ou seja, apenas existiam 5-6 mulheres naquele navio plataforma. Estes números são realmente chocantes. Da área técnica era apenas a Cibele e outra mulher, as restantes eram enfermeiras, radioperadoras e pessoas dedicadas à limpeza e à cozinha. Dado estarem lá isolados e esta disparidade, conta-nos que era preciso ter alguns cuidados para estar sempre segura.

Durante 1 ano, trabalhou embarcada a fazer testes e configurações. Depois o projeto terminou e voltou para a área de pré-vendas da empresa.

Eu pensei: Bem agora que o projeto terminou vou voltar para a área de pré-vendas, pois mais ninguém me pode dizer que eu não sei o que eu estou a fazer!

Até que depois decidiu vir para Portugal! Veio para cá estudar e ai saíu um pouco da área de automação, que era uma área mais antiga e consolidada. Resolveu aprender uma coisa diferente, uma coisa nova.

Na altura que saíu do Brasil a área das energias renováveis estava a começar por lá e aqui na Europa já estava mais consolidada então pensou em vir adquirir conhecimentos com quem já sabia fazer bem as coisas, depois se quisesse voltar para o Brasil já tinha os conhecimentos e se quisesse ficar cá já existia mercado de trabalho. E foi assim que entrou na área das Energias aqui em Portugal, tanto na mobilidade como no fotovoltaico.

Contou-nos que começou a trabalhar em Portugal ainda durante o seu curso, estava cá há seis meses e iniciou logo nesta área. A Wondercom é a 3ª empresa em que trabalha cá em Portugal, sempre na área do solar e da mobilidade elétrica.

Aprendi um pouquinho nas outras empresas e agora vim trazer um pouco do meu conhecimento para a Wondercom, para fazermos crescer um pouco esta área!

Muito obrigada Cibele pela tua partilha!