STOP 5G PARANOIA

Autoria: Samuel Cruz
Departamento de Sistemas de Informação

Nos anos 70, em plena guerra fria e com a eminência de um ataque nuclear entre os Estados Unidos e a União Soviética, o tema dos efeitos da radiação estava na ordem do dia e, entre outras, surgiu a teoria de que os campos eletromagnéticos gerados pelas linhas de alta tensão estariam relacionados com o aparecimento de cancros na população que vivia perto deles, apesar de nunca ter existido nenhum estudo credível publicado num boletim de investigação científica que relacionasse isso. Depois o alvo foram os micro-ondas, e as suas perigosíssimas radiações.

Nos dias de hoje ainda há pessoas a acreditar que aquecer comida no micro-ondas provoca cancro e que a rede que está presente nas portas destes equipamentos serve para impedir que a radiação saia do interior. Serve na verdade para impedir que no caso de algum alimento rebentar no interior, parta o vidro/acrílico da porta. Depois foram as televisões. Também emitiam radiação e faziam mal à vista. Na verdade, não fazem bem, mas por outros motivos. A exposição prolongada da vista humana a uma televisão provoca o que chamamos tipicamente de “vista cansada”, mas isso deve-se apenas ao movimento da imagem e à transição rápida de cor e luz que obrigam a vista a estar constantemente a adaptar-se. Não é em nada diferente do que acontece se ficarmos o mesmo período a olhar para uma lâmpada a piscar ou se formos de carro a atravessar uma estrada florestal e formos a olhar para o sol através das árvores.

Já nos anos 90 quando surgiram as primeiras redes 2G voltaram as teorias da conspiração. A causa deve-se em parte a uma fotografia publicada num jornal britânico de um técnico de telecomunicações a subir a uma antena com o que parecia ser um fato antirradiação. Era na verdade um fato que o protegia de um químico anticorrosão que estava a ser aplicado na antena para a impedir de enferrujar. Quando a operadora explicou para que servia o fato já os amantes da conspiração tinham inventado dezenas de teorias sobre os nunca provados efeitos devastadores das redes 2G. 

Com a massificação destas redes e dada a ausência de qualquer estudo científico credível que conseguisse relacionar as redes 2G/3G/4G com problemas de saúde em humanos o tema foi caindo em esquecimento, até ao aparecimento do 5G.

Aqui importa esclarecer o seguinte: Existem dois tipos de radiação electromagnética: A radiação ionizante e a radiação não ionizante. A radiação ionizante é forte o suficiente para retirar os electrões da sua órbita em torno de um átomo. Este processo é chamado de ionização e pode ser prejudicial às células do corpo. A radiação não ionizante não tem energia suficiente para retirar os electrões da sua orbita em torno de um átomo, causando-lhes apenas vibração. Esta não é prejudicial às células do corpo. A radiação emitida pelas redes 2/3/4/5G é não ionizante, pelo que não é prejudicial aos seres humanos conforme declararam várias autoridades de saúde pública, como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Comissão Internacional de Proteção contra Radiação Não-Ionizante (ICNIRP), o organismo científico com sede na Alemanha encarregado de estabelecer limites à exposição à radiação, em várias ocasiões que as ondas de rádio usadas pelas comunicações móveis não são prejudiciais à saúde.

No dia 12 de Março de 2020, o Dr. Thomas Cowan, especialista em medicina familiar norte-americano, suspenso por má conduta, publicou um vídeo no Youtube em que afirmava que o vírus COVID-19 era provocado por radiação eletromagnética. O vídeo teve 16.000 shares e 390.000 views no espaço de uma semana, e foi citado no Twitter por uma artista americana com 2.3M followers.

Apesar do vídeo conter alegações falsas e imprecisões que foram imediatamente desmascaradas por centenas de virologistas de todo o mundo, o rastilho estava novamente aceso. A artista americana que fez share do vídeo no seu Twitter apagou o post passados alguns dias mas foi tarde demais. Por todo o mundo surgiram grupos anti 5G e desde então foram registados apenas no reino unido, segundo a BBC, mais de 300 ataques a técnicos de telecomunicações, durante o seu trabalho, e foram incendiadas 99 antenas 5G.

Isto mostra os perigos da desinformação que se propaga pelas redes sociais, especialmente em alturas de incerteza como a que vivemos, e leva-nos à triste conclusão de que apesar de todos os seres humanos serem imunes às ondas eletromagnéticas geradas nas redes 5G, nem todos são imunes a teorias absurdas ou à estupidez de uma forma geral.